Dia 09 de agosto é comemorado o Dia Internacional dos Povos Indígenas, uma data que busca garantir a autodeterminação e os direitos humanos às diversas etnias indígenas do planeta.

Com diferentes condutas e tradições, povos indígenas do Brasil e do mundo influenciam a sociedade com uma cultura rica e diversa. E apesar de tantas diferenças, é possível notar também grandes semelhanças entre alguns hábitos, costumes e interesses desses povos, que mesmo se manifestando de diferentes formas, são comuns na vida de todos os seres humanos de forma geral.

É o caso dos ornamentos, por exemplo. Seja com joias ou máscaras, por questões estéticas ou religiosas, a ornamentação é um costume comum em diferentes sociedades, e no caso dos povos indígenas, vai além, ocupando funções importantes em suas estruturas sociais. Funções estas, que explicaremos a seguir.

 

A ornamentação dos povos indígenas

Ao falarmos sobre povos indígenas, é importante lembrarmos da riqueza e variedade de povos existentes – só no Brasil, existem cerca de 300 etnias indígenas diferentes. Entretanto, algumas características comuns podem ser encontradas em diversas tribos, cada uma com sua particularidade, mas partindo de um lugar comum, como é o caso das práticas artísticas e de ornamentação.

Nos Estados Unidos, um dos povos indígenas mais conhecidos são os índios Navajo. Uma nação que vive de acordo com suas próprias leis e ficou famosa pela produção e uso de joias feitas de prata e turquesa. Foi na segunda metade dos anos 1800 que o povo Navajo aprendeu a técnica de ourivesaria de prata com mexicanos – antes disso, eles já produziam joias, porém de latão – e por volta de 1900 começaram a comercializar suas produções.

Para o povo Navajo, a ornamentação com joias tem funções decorativas e religiosas, e são usadas principalmente por mulheres. Nas vestimentas femininas, cada detalhe possui um significado – joias na cintura são amuletos para proteger os órgãos reprodutores, enquanto colares representam a jornada da vida e a relação materna. Há também a tradição de usar o máximo de joias possíveis, pois elas representam riqueza.

Para outros povos indígenas da região do Novo México, a ornamentação fica por conta de joias utilizadas como amuletos, nos quais acredita-se que habita um deus ou espírito. Entre os índios do Pueblo Zuñi, por exemplo, o amuleto mais famoso é um colar de pássaros esculpidos em conchas, intercalados com contas de turquesa, e a crença é de que os amuletos podem ajudar os seres humanos a resolverem seus problemas.

Já no Brasil, a ornamentação seguiu caminhos religiosos e menos ostentativos, com elementos que seriam usados apenas em ocasiões especiais de celebrações ou rituais, incluindo funerais. A arte de pintura corporal e a confecção de adornos com plumagem se popularizaram como as principais ornamentações.

Na maior parte das tribos brasileiras, quem desenvolvia a arte plumária eram os homens, que passavam por um ritual de caça, tingimento, corte e amarração das plumas. Elas podiam ser coladas diretamente no corpo, mas também eram muito utilizadas para ornamentar máscaras, colares, braçadeiras, brincos, pulseiras e cocares. Tais adornos eram confeccionados não apenas com plumas de aves, mas também com garras e bicos de animais, sementes, sisal, e pedras – mesmo sem utensílios apropriados, os indígenas levavam anos burilando e perfurando pedras como o quartzo branco e seixos pequenos.

Cada adorno possuía diferentes significados de acordo com o material usado e com cada povo; para o povo guarani, por exemplo, colares feitos de semente tinham o significado de proteção e fortalecimento do espírito. As plumas, para os índios Kayapó, conferiam ao homem poderes e qualidades sobrenaturais, como conhecer os segredos dos homens e dos espíritos. No entanto, de forma geral, os ornamentos serviam para transmitir os valores culturais de cada tribo, e eram utilizados como uma forma de diferenciação dos grupos, sinalizando as posições hierárquicas dentro da tribo.

 

A influência dos povos indígenas na cultura brasileira

A cultura indígena brasileira vai muito além de uma influência; ela é parte da formação cultural do país. Se olharmos atentamente, percebemos que a herança indígena se faz presente em diversos elementos da nossa cultura, como na culinária, na decoração, em conhecimentos populares e até mesmo na língua, com cidades, animais, plantas e até nomes próprios que possuem origem indígena.

E entre tantas influências importantes, uma das mais notáveis está no artesanato e arte brasileira. Os trabalhos de cestaria e cerâmica, desenvolvidos inicialmente para servir de recipientes para alimentos, hoje estão presentes em bolsas, arranjos, travessas. A plumária, tão importante para a ornamentação indígena, hoje está presente nos adornos e vestuário brasileiro em diversas peças artesanais – atualmente, não mais atreladas a uma conotação religiosa, porém reforçando a ideia de ornamento e fortalecendo a relação entre Homem e natureza na busca pela ornamentação. Todos estes, elementos que se difundiram e tornaram-se parte fundamental do que é hoje a cultura brasileira.

 

 

Foto 01: Leonardo Capitanio (Pexels)

Foto 02: Globo Repórter (Reprodução)